Durante uma passagem que fazia ao meio-dia no centro da vila de Cascais, o professor de matemática Santos Galvão, detetive amador nas horas vagas, reparou em vários carros da polícia junto à entrada da joalharia do ourives Bernardo. 


Brincando com a ponta do bigode com uma curiosidade pensativa, o detetive amador António Santos Galvão aproximou-se do público que ali estava e foi passando pelo meio deles até chegar às barreiras que a polícia ali colocara. 

Reparando que o polícia encarregue pela investigação era o seu amigo Inspetor Mateus da Polícia Judiciária fez-lhe um sinal, e ele disse aos policias que guardavam o local para o deixar entrar. 

"Olá, António", exclamou o Inspetor Mateus, surpreso. "O que o te traz aqui? 

"Eu estava de passagem, mais nada", respondeu o professor Galvão. 

Ele olhou em redor para o interior fresco e escuro da estreita sala da ourivesaria e perguntou, “O que aconteceu?” 

“Eu estava prestes a perguntar ao Sr. Bernardo para nos contar outra vez o que aconteceu.” 

Os dois voltaram-se para o pequeno ourives, de cabelos brancos, que estava encostado a um dos dois expositores de joias que se estendem ao comprimento de ambos os lados da sala. 

Tinha o rosto coberto de poeira e parecia exausto quando disse “Eu tinha acabado de entrar pelas traseiras quando ouço a campainha na porta da frente”. 

“Eu venho lá de trás e vejo um homem muito bem vestido, olhando em volta e vindo na minha direção, e pergunto “Posso ajudar?”. 

“Foi quando ele sorriu e puxou de uma arma até metade do bolso do casaco, só um bocado, mas deu para perceber que era real, e perguntou se tinha dinheiro na caixa registadora”. 

“Não havia mais ninguém por perto, então o que podia fazer? 

"De qualquer forma, ele fez-me abrir a caixa registadora, mas como apenas tinha feito uma venda, só lá tinha alguns euros” 

“Ele então ficou meio louco, tirou um pedaço de corda do bolso e amarrou as minhas mãos atrás das costas e fez-me deitar com o meu estômago para baixo atrás do balcão lateral, com o meu rosto encostado à parede.” 

“Estava apertado, como podem ver não há muito espaço aqui atrás, e então eu ouço-o a abrir os painéis de madeira - estes aqui, na metade inferior do balcão - mas ele não encontrou nada.”. 

Continuava o sr. Bernardo a dizer, “Eu mantenho a maioria das coisas lá em baixo, mas vi que ele passou para o balcão oposto, pegou num saco de estopa e depois de quebrar o vidro ele colocou alguns anéis lá dentro do saco e depois saiu a fugir. 

“Levantei-me depois e foi quando vejo o vidro quebrado e gritei pela polícia. 

"Como era o homem?" perguntou o Inspetor Mateus. 

“Como eu disse ao outro polícia – era grande, corpulento, barbeado, com cabelo moreno." 

"Você não tem os expositores ligados a um alarme?" perguntou o Inspector Mateus. 

“Nunca precisei disso. De qualquer forma, tenho tudo no seguro." 

"Bem, obrigado, Sr. Bernardo”, disse o Inspector Mateus, fechando o bloco de notas. 

"Vamos verificar e depois o informamos se fizermos alguma detenção. 

Mas mais cá fora, o professor abordou o seu amigo e disse, "Acho que podes fazer uma detenção agora". 

 Porque razão é que o professor e detetive amador Santos Galvão disse isto?

Ele suspeita de Bernardo porque de acordo com a sua história ele deitou-se no espaço estreito atrás de um dos balcões da loja.

A cara dele estava encostada à parede e os painéis de madeira inferiores do balcão teriam obstruído a sua visão mesmo que ele se tivesse virado. 

E dado que ele supostamente não se levantou até o ladrão ter saído, ele não podia saber que o ladrão pôde não sabia que o ladrão usava um saco de estopa. 

O negócio tinha sido mau para o Bernardo e ele inventou o assalto para ficar com dinheiro do seguro.